Ginevra Rinaldi nunca soube o que era liberdade. Vivendo em uma gaiola de ouro, sufocante e cheia de regras ditadas por seu pai, ela está acostumada a obedecer e sofrer as punições da família por qualquer ato de rebelião.
Lorenzo Orlando abdicou o seu lugar como herdeiro da família Orlando para ter a liberdade de ser e fazer o que quisesse, até mesmo arriscando a própria vida por isso. No entanto, hoje ele é um homem respeitado e o dono do local mais prestigiado de Rockart City, o Bridge.
Determinada a romper com as barreiras e as regras de sua família, Ginevra acabará na cova do lobo. O que acontecerá quando ela for enlaçada pelo olhar penetrante de Lorenzo e descobrir que não pode mais escapar dele? Quanto tempo levará para Ginevra se tornar sua presa?
1
gINEVRA
— Não sei, Maya. Talvez seja melhor
esquecermos disso — sussurrei, tentando acalmar a ansiedade que estava começando
a sentir.
— Ginevra, vamos lá, deixe-se levar, pelo
menos uma vez! Você não está cansada de sempre ter que obedecer às regras de
sua família? Não me diga que uma parte de você não está louca para se rebelar e
se divertir como todas as garotas da nossa idade!— bufou minha amiga.
Claro que queria! Mas não era tão fácil
para quem tem o sangue italiano Rinaldi nas veias.
Ser filha de um chefão da máfia
significava ter uma vida predeterminada, cercada por um conjunto de regras e
limites ditados por um pai, que era o meu comandante para todos os efeitos.
Embora eu fosse a filha mais nova, não era
de forma alguma mais livre e todo erro ou transgressão sempre era punido com
severidade. É por isso que aprendi desde muito cedo a respeitar os desejos da
minha família.
Sempre me comportei exemplarmente, mas nos
últimos anos, desde que comecei a faculdade, comecei a me ressentir das regras
rígidas de meu pai e da mania de perfeição da minha mãe.
Tudo mudou quando conheci uma realidade
tão vasta como a universidade, com alunos que não eram selecionados e avaliados
da mesma forma que as alunas da escola católica que eu havia cursado até então.
Aprendi que havia estilos de vida
diferentes e que, sem a presença do meu pai no conselho escolar, ninguém se
importava que eu fosse uma Rinaldi.
Pela primeira vez na vida, me permiti ser
eu mesma e abraçar novos ideais, mesmo que meu pai os detestasse.
Nos últimos dois anos, eu havia me tornado
a ovelha negra da família, aquela a ser evitada ou tratada como uma coitada
desajustada, mas a verdade é que nunca me senti tão viva antes.
Eu havia quebrado aos poucos as pequenas
correntes que me prendiam à família, mas ainda estava extremamente longe da
liberdade total e de fazer o que queria, como tomar uma decisão clara sobre meu
futuro sentimental ou profissional.
Até então, eu tinha me limitado a assistir
Maya, filha do contador da propriedade Rinaldi e minha única amiga, enquanto
ela violava as regras de sua família, que seguiam servilmente as regras de meu
pai.
Eu sentia inveja de Maya toda vez que ela
me ligava, pedindo para a encobrir, quando ela queria se encontrar com amigos
que seus pais não gostavam ou quando estava namorando um garoto.
Sempre admirei a bravura com a qual
desafiava os desejos de sua família.
Muitas vezes, quis ser como ela, mas o
peso do meu sobrenome sempre me impediu.
No entanto, Maya estava certa: eu não
poderia continuar assim. Tinha acabado o último ano de faculdade e ainda não
tinha sentido a emoção de uma pequena escapadela, de um encontro secreto com um
menino ou de fazer qualquer besteira que fosse, como uma saída à noite com
gente que não conhecia.
— Certo, eu topo — exclamei com
entusiasmo, com a voz ainda cheia de apreensão.
— Você verá que vai ficar tudo bem. Já fiz
isso centenas de vezes e posso garantir que nunca tive problemas — tranquilizou
Maya.
— Só tenho medo de que alguém me reconheça
ou que meu pai descubra.
— Tomei todas as precauções necessárias.
Olhe aqui, — disse ela, me entregando uma peruca loira ondulada.
— Você está brincando, não é?
— Querida, você é filha do dono de metade
de Rockart City. Nem pense que pode sair por aí sem chamar atenção.
— Ninguém mais sabe quem eu sou. Há dois
anos meu pai não me inclui mais em suas reuniões e nem mesmo me convida para
suas cerimônias de posse. Agora, as pessoas pensam que ele só tem dois filhos e
não três. Não apareço mais ao seu lado desde que me tornei vegetariana e
comecei a falar sobre direitos civis.
— Ele ainda não te perdoou por ser
vegetariana? — riu Maya.
— Não, quando comemos juntos, ele sempre
garante que eu tenha um bife no prato, que descarto todas as vezes, deixando-o
furioso. Agora, na maioria das vezes, como sozinha no anexo para onde me
rebaixaram — disse desanimada. Era difícil nunca se sentir aceita pela família.
— Ótimo! Lá você pode ficar sozinha e
fazer o que quiser!
— Mais ou menos. Lembre-se de que há
câmeras por toda a casa e os seguranças estão sempre presentes. Não há
privacidade e muitas vezes me pergunto se algum dia serei capaz de me
desvincular de vez da minha família e viver minha própria vida. Eu gostaria de
encontrar um emprego, me casar com um homem que eu amasse…
— Enquanto você estiver em Rockart City,
isso nunca vai acontecer. Nada acontece na parte leste do rio Safe sem a
permissão de seu pai… sua única esperança é ir para bem longe daqui, para um
lugar bem longe do alcance do seu pai, porque você também sabe muito bem que
ele nunca vai deixar você fazer o que quiser. Ele fará de tudo para impedi-la
de trabalhar, para que nunca consiga ser responsável por suas próprias finanças
e terminar cortando o cordão umbilical que ainda a acorrenta a ele com plenos vinte e três anos!
— E ele certamente não me deixaria casar
com quem eu quisesse.
— Nem sonhando! Ginevra, pense em todos os
relacionamentos amorosos que você teve até agora.
— Eu só tive um. Durou três dias, e foi no
meu último ano do ensino médio.
— Daniel Spencer, certo?
— Sim. Eu mal consegui dar meu primeiro
beijo nele, antes de saber que ele e toda a sua família haviam sido exilados
para sempre de Rockart City.
— Tudo isso por causa de um beijo… pense
no que teria acontecido se tivessem dormido juntos.
— Eu teria acabado nas masmorras do
castelo como prisioneira de guerra — ri baixinho, embora na realidade sempre
achei que esse seria realmente o meu destino. Eu ainda não tinha esquecido a
explosão e a bofetada que o meu pai me deu quando descobriu que eu tinha uma
queda pelo filho de David Spencer, o homem que o fez perder um acordo dois anos
antes.
Edoardo Rinaldi era um homem que guardava
rancor para o resto da vida.
— Bem, eu posso garantir que nada vai
acontecer com você desta vez e seu pai nunca vai descobrir — animou Maya, vindo
por trás e colocando a peruca loira sobre meu cabelo castanho que batia no
ombro.
Eu olhei no espelho, acabei rindo pois
estava irreconhecível com todo aquele delineador preto e cabelo loiro que
chegava à minha cintura. Além disso, o vestido que Maya me fez usar era o
completo oposto do meu visual “comportado” de sempre.
Aquele vestido vermelho sem alças e a
jaqueta de couro preta com mangas três quartos me devam uma aura de mulher
cosmopolita, dinâmica e pecadora. Tudo o que eu não era.
— Seu pai não vai te questionar sobre
todas essas compras? — perguntei surpresa.
— Meu pai não é tão cauteloso quanto o
seu, mas ele verifica todas as minhas compras com cartão de crédito e minha mãe
entra no meu closet uma vez por mês se meu pai reclamar do extrato bancário.
— Sua mãe é igual à minha. Você não acha
que ela vai te repreender por essas compras extravagantes?
— Minha mãe não sabe nada sobre a minha
segunda vida. Tenho um acordo com a vendedora. Ela deixa que eu experimente
essas roupas em casa por um dia e eu as
levo intactas na tarde seguinte, quando vou trocá-las por outras mais
adequadas ao gosto da minha mãe — revelou Maya, mostrando-me a etiqueta ainda
presa ao vestido, antes de escondê-la dentro do decote, na axila direita.
— Você é brilhante!
— Eu sei, mas lembre-se de ter cuidado com
este vestido, porque amanhã tenho que levá-lo de volta à loja e deve estar em
perfeitas condições.
— Prometo!
— Bem, então vamos nessa. A empregada me
emprestou as chaves do carro que usa para fazer as compras e, do jeito que
estamos agora, ninguém vai nos reconhecer quando sairmos. Nem mesmo o
guarda-costas que te trouxe aqui e que está vigiando do estacionamento do lado
de fora do portão.
— Espero que sim, senão estou morta.
— Por precaução, vamos deixar os celulares
aqui, para que o sinal do GPS não atrapalhe nosso plano. Além disso, levaremos
apenas dinheiro e o documento falso que dei a você. Lembre-se que esta noite eu
não sou Maya Gerber, mas Chelsea Faye e você não é Ginevra Rinaldi, mas sim Mia
Madison de Los Angeles.
— Você pensou em tudo, hem?
— Ginevra, depois de cinco anos de fugas
secretas, eu poderia até escapar de uma prisão — riu Maya, aliviando a tensão.
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