A Yvette era apenas uma garotinha quando recebeu como prenda da avó um estranho berloque em forma de serpente. Uma joia misteriosa, ligada a uma promessa que a mulher não cumprira de maneira nenhuma. Depois de doze anos, a Yvette encontra-se sozinha, dividida entre uma irmã caprichosa e um trabalho desqualificante, mas as coisas estão para mudar... O Vašek tentou sempre de adiar o dia em que deveria fazer frente aos seus deveres e honrar a promessa feita ao seu avô, mas já não há mais tempo. Assim sendo, encontrar-se-á a procurar desesperadamente a mulher que lhe fora destinada para levá-la ao seu mundo e faze-la sua. Entre intrigas, traições, raptos e mentiras, conseguirão a Yvette e o Vašek selar a promessa que liga as duas famílias há gerações?
Prólogo
«Venham até aqui, crianças!»
«Estamos a chegar!» exclamaram duas vozinhas cristalinas
e sorridentes.
Num abrir e fechar de olhos, duas belíssimas crianças
irromperam no majestoso aposento da avó, que estava à espera delas sentada na
cama, coberta de fantásticas joias brilhantes, como mandava a tradição para
aquele dia de festa.
«Aqui estão vocês! Como já sabem, hoje é um dia especial
e desejo que cada uma de vocês escolha uma minha joia como prenda pelo vosso
decimo segundo aniversario. Força, peguem o que preferem.» Proferiu a elegante
senhora, envolvida num magnífico xaile de seda cor de marfim, brincando com o
colar de perolas, que pendia no pescoço.
Já tinham passado muitos anos, mas aquele ritual de
espalhar na cama da avó todas as suas joias e poder escolher a própria prenda
em total liberdade, era sempre esperado com ansiedade por todas as três.
A Yvette e a Gisèle, as duas adoradas netinhas, não se
deixaram repetir duas vezes e lançaram-se de cabeça para baixo na escolha da
joia mais vistosa e brilhante.
Desde quando perderam os progenitores, pouco mais ou
menos há oito anos, as duas gémeas foram confiadas à avó materna, a Louise
Chenal, uma mulher extremamente rica, em virtude da herança recebida dos seus
três defuntos maridos, mas também muito frívola e esbanjadora. Para ela, um
lindo vestido custoso, um esplendido e precioso colar com pulseiras e brincos
coordenados e o devido cuidado ao corpo eram os fundamentos adequados para uma
mulher de classe. Depois precisava aprender a arte da sedução e do sorriso... E
o joguinho estava feito!
A Gisèle levava sempre a sério todos os conselhos que lhe
dava a avó e não deixava escapar de forma alguma a ocasião para ridicularizar a
simplicidade e a fealdade da irmã que, conquanto fosse a sua irmã gémea, era
completamente diferente da outra.
A Gisèle tinha os cabelos loiros, sempre luzentes e com
mórbidos caracóis que lhe contornava o rosto e os olhos cor de chocolate,
enquanto a Yvette uns comuns cabelos castanhos, nem lisos nem encaracolados,
mas rebeldes ao qualquer golpe de escova e os olhos castanhos com uns fracos
reflexos que davam ao verde.
Além de que a adolescência com a revolução hormonal não
fora decerto clemente com ela e já tinha iniciado a pontilhar-lhe o rosto com
nojentos furúnculos que a sua irmã olhava sempre horripilada e sublevada por
não ter sido atingido pela mesma desgraça.
Apesar disto, a avó Louise bem estimava ambas, por muito
que não podia abdicar de notar como a beleza da Gisèle crescia a par e passo
com a altivez e a arrogância que faltava totalmente à outra gémea, sempre
humilde e súcubo diante dos vexames da irmã.
«Escolhi este!» Desatou a Gisèle, apresentando à avó uma
lindíssima pulseira em ouro amarelo com pedras de ónix castanhas e engastadas.
«Perfeito! Ótima escolha! Combina perfeitamente com os
teus olhos e podes tranquilamente combiná-la com o colar que escolheras no ano
transato. E tu, Yvette?”.
A garotinha estava ainda a observar a joias. Não queria
desiludir a mulher anciã, mas na verdade não sabia propriamente o que escolher.
Nunca tivera uma predileção pelo ouro e pelas pedras
preciosas, porém a comovia muito o gesto da sua avó, sabendo como as tais joias
fossem importantes para ela.
A um certo ponto, notou um estranho berloque da antiga
feitura, em forma de serpente com o rabo encaracolado. Pegou-o na mão,
fascinada por aquele objeto e o apresentou à avó.
«Yvette, este é um berloque de âmbar e prata.
Absolutamente, não te fica bem. Coloque-o onde o encontraste e procura algo
mais interessante e vistoso.» Desatou de imediato a senhora anciã,
inesperadamente enervada.
«Mas este é do meu agrado.» Sussurrou a criança magoada.
«Tens a certeza de que queres precisamente este?»
Perguntou com maior ternura a avó.
«Sim».
A avó suspirou profundamente.
«Esta é uma joia muito especial, sabes? O caracol do rabo
indica uma promessa feita... Uma promessa que eu não soube manter.» Concluiu
tristemente.
«Que promessa?» Perguntou possuída pela curiosidade a
Yvette.
«A promessa de amor que fizera ao homem que me ofertou
este berloque».
«Por que não mantiveste a tua promessa?»
A senhora pôs-se a sorrir defronte da ingenuidade da
neta.
«Na altura era jovem, tinha uma vida pela frente e não me
via pronta para retirar-me da vida mundana e partir com ele para o seu país e
contrair o matrimónio com ele».
«Então por que lhe prometeste que ias contrair o
matrimónio com ele?»
A avó fixou-a intensamente e percebeu pela primeira vez
que a neta não tornar-se-ia de maneira nenhuma como ela.
«Yvette, estás segura de que queres mesmo este berloque?»
Voltou a perguntá-la ignorando a sua pergunta, sabendo que a verdade poderia
fazer-lhe perder a estima da neta. Não era orgulhosa daquilo que fizera, mas já
era tarde demais para remediar. Preferia desfrutar das recordações da sua
juventude, quando a sua beleza conseguia fazer tremer o coração mesmo ao homem
mais frio e rígido.
«Sim.»
«Combinado. Espero apenas que tu não tenhas que pagar de forma alguma esta tua escolha».
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